quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Pesquisadores brasileiros encontraram problemas visuais e alterações celulares nos crustáceos

Uma pesquisa brasileira acaba de apontar mais um impacto negativo da destruição da camada de ozônio: a radiação ultravioleta que passa hoje pelos buracos dessa camada afeta embriões de camarões de água doce. Os animais podem nascer com alterações celulares e na forma e pigmentação dos olhos, o que reduziria suas chances de atingir a vida adulta.

A pesquisa, que faz parte do doutorado da bióloga Evelise Nazari no Programa de Pós-graduação em Ciências Morfológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisou amostras de ovos de camarões obtidas em aquário e submetidas a radiação ultravioleta B (UVB) em laboratório durante quatro dias. A quantidade de radiação utilizada foi semelhante à que incide hoje sobre o estado de Santa Catarina, onde foram coletados os camarões adultos que puseram os ovos.

Além disso, os pesquisadores simularam as demais condições ambientais da região, baseados nas médias dos meses de verão, época do ano que coincide com o período reprodutivo desses crustáceos.

Após o experimento, foram observadas diversas alterações nesses embriões, como no formato dos olhos, que chegaram a não se formar em alguns casos. Além disso, a coloração dos olhos ficou mais clara. Os embriões apresentaram ainda problemas no desenvolvimento dos apêndices corporais, estruturas responsáveis pela locomoção: alguns cresceram demais e outros, muito pouco.

No ambiente, foram encontrados embriões com alterações na pigmentação dos olhos semelhantes às observadas no laboratório. Segundo Nazari, isso sugere que a incidência de radiação pode já estar interferindo nos ecossistemas.

“Esses embriões irão se desenvolver em larvas que possivelmente terão poucas condições de natação e captura de alimentos”, afirma a pesquisadora. “As chances de sobrevivência desses animais são bastante reduzidas.”

Alterações celulares
Os pesquisadores também verificaram alterações nas células dos embriões, principalmente no índice de proliferação celular e na taxa de apoptose (morte programada das células).

Para a orientadora da pesquisa, a bióloga Silvana Allodi, da UFRJ, o aumento da ocorrência de apoptose nas células pode significar um mecanismo de defesa contra a agressão sofrida pela radiação. “Com a morte programada, algumas células são eliminadas para que o tecido como um todo sobreviva”, explica.

O estudo de Nazari é parte de uma ampla pesquisa que avalia os efeitos da radiação ultravioleta e do bisfenol A (composto químico presente em objetos como garrafas PET e latas de conserva) em crustáceos. O trabalho é desenvolvido por pesquisadores da UFRJ, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

As biólogas ressaltam que os crustáceos funcionam como monitores da qualidade dos diferentes ambientes em que vivem. Além disso, a diminuição do número desses animais pode causar diversos problemas ao ecossistema. “Os camarões de água doce, por exemplo, se alimentam de restos animais ou vegetais e são alimento para peixes e aves”, lembra Nazari. “Se houver redução dessa população, a repercussão ecológica será significativa”, alerta.

Estudo mostra impacto das monoculturas de eucalipto sobre as mulheres

Agência Envolverde

Um estudo de caso produzido pela Friends of the Earth e Movimiento Mundial por los Bosques Tropicales (WRM), em parceira com o Núcleo Amigos da Terra/Brasil, mostra a realidade vivida por mulheres que se encontram na região de expansão dos monocultivos de eucalipto das papeleiras, o bioma Pampa. O trabalho foi apresentado 19/12, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, às 14h.

Trata-se de um subsídio ao encontro organizado pelo Movimento Nacional em Direitos Humanos, "Relatório da violação dos direitos humanos pela atividade da silvicultura no Estado do Rio Grande do Sul 2005-2008". A autora é a bióloga e mestre em Educação Ambiental Cíntia Pereira Barenho.

"É uma importante ferramenta não só para a luta contra a expansão dos megaprojetos de celulose e papel dos movimentos sociais e ambientalistas, mas também para todos os setores da sociedade porque mostra a realidade de mulheres que pouco ou quase nada têm sido divulgado pela mídia," diz. Conforme a bióloga, a situação destas mulheres ainda é de invisibilidade social, apesar de elas já estarem à frente de lutas de resistência.

Contaminação do ambiente

O estudo de caso contou com a participação de vinte mulheres de movimentos sociais do campo e da cidade que relataram diferentes impactos da silvicultura em suas vidas. As participantes moram em Rio Grande, Hulha Negra, Piratini, Encruzilhada do Sul, Barra do Ribeiro, São José do Norte, Santana do Livramento, Herval e Porto Alegre.

Dentre os problemas decorrentes dos monocultivos relatados pelas mulheres, constatou-se dificuldades acerca das condições sociais e de sobrevivência diária, como a contaminação do ambiente e de animais devido a utilização de grande quantidade de agroquímicos nas lavouras de eucalipto e também a precária situação das estradas rurais devido ao tráfego de veículos pesados.

Além disso, elas relatara, situações de violência e assédio sexual com o início das plantações de eucalipto; escassez de água; degradação da terra e precárias condições de trabalho nos plantios. A reforma agrária foi paralisada e o abandono do campo tem se intensificado.