A proteção das florestas é cada vez mais vista como uma atitude essencial para combater as mudanças climáticas. O governo brasileiro assinou na última semana um decreto que cria um fundo para preservação da Amazônia. Outros países e instituições assumem posturas semelhantes, uma vez que o desmatamento é apontado como uma das principais fontes de emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. A importância dessas iniciativas é reforçada por um estudo australiano que comprova que a capacidade de florestas intactas em armazenar carbono é três vezes maior do que o previsto até então. Elas também são 60% mais eficientes nesse sentido do que as florestas plantadas.
Cientistas da Universidade Nacional da Austrália, que publicaram um relatório sobre o tema nesta terça-feira, dizem que o papel das florestas selvagens, assim como o da biomassa de carbono verde pertencente a elas, foi subestimado na luta contra o aquecimento global. “Na Austrália e, provavelmente em todo o mundo, a capacidade de armazenamento das florestas naturais foi subestimado e consequentemente deturpado em avaliações econômicas e opções políticas”, afirmam.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e o Protocolo de Quioto não fazem distinção entre a capacidade de carbono de florestas plantadas e das intocadas. As florestas ainda intactas podem carregar três vezes mais carbono do que o calculado atualmente, caso o estoque de carbono da biomassa seja incluído nas medições. Atualmente, a habilidade de armazenamento de carbono é baseada em estimativas de florestas plantadas.
O relatório “Carbono Verde, o papel das florestas naturais para o estoque de carbono” informa que a falta de diferenciação na definição de floresta também subestima o acúmulo de carbono em florestas adultas. O IPCC define como floresta árvores acima de 2 metros de altura e com copas maiores de 10%; mas, na Austrália, florestas foram definidas por árvores com mais de 10 metros de altura e copa superior a 30%.
O estudo avalia que as florestas preservadas do sudeste da Austrália podem abrigar cerca de 640 toneladas de carbono por hectare – enquanto a estimativa do IPCC é de 217 toneladas. Os cientistas também calculam que cerca de 9,3 bilhões de toneladas de carbono podem ser estocadas nos 14,5 milhões de hectares de florestas de eucalipto no sudeste australiano, se não ocorrer intervenção humana. O IPCC estima apenas um terço desta capacidade e somente 27% do estoque de carbono de biomassa das florestas.
Mais flexível
Por permanecerem intocadas, as florestas naturais, além de armazenarem mais carbono, são capazes de o estocarem por mais tempo do que as plantadas, rotineiramente cortadas para uso comercial.
O co-autor do relatório, Brendan Mackey, entende que preservar as florestas selvagens serve a dois propósitos: manter uma grande absorção de carbono e interromper a liberação de carbono armazenado nas florestas.
A quantidade de carbono abrigado em biomassa e solo no mundo é aproximadamente três vezes maior do que na atmosfera, explica o documento. Cerca de 35% dos gases do efeito estufa presentes no ar é resultante de desmatamentos passados e 18% das emissões anuais vêm de desflorestamento continuado.
O relatório diz que o corte de árvores é responsável por mais de 40% da redução de carbono de longo prazo, em comparação com florestas preservadas. “A maioria do carbono de biomassa nas florestas naturais reside na biomassa da madeira de grandes árvores adultas. A exploração comercial modifica a estrutura etária das florestas e faz com que a média de idade das árvores seja muito jovem”, acrescenta o documento.
Mackey acredita que os sistemas de negociação de emissões não deveriam favorecer florestas plantadas para a compensação de carbono, já que elas não fazem um balanço entre a perda de florestas naturais e a liberação de carbono. “Nós precisamos ter certeza de que os esquemas de comércio de emissões não levam a resultados perversos”, adverte. A Austrália deverá introduzir o sistema próprio de negociação de emissões em 2010, mas a agricultura não estará incluída no projeto.
Os cientistas afirmam que prevenir desmatamentos futuros das florestas de eucaliptos no sudeste da Austrália será equivalente a evitar emissão de 460 milhões de toneladas de CO2 por ano no próximos 100 anos. E permitir que florestas cortadas cresçam novamente até atingir a capacidade natural de estocagem de carbono, evitará o equivalente a 136 milhões de toneladas de CO2 por ano nos próximos 100 anos – cerca de 25% do total de emissões australianas em 2005.
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